Quando usamos a expressão “bulldog” para a maioria das pessoas, vem logo em mente a figura de um cão baixo, atarracado, com as patas arqueadas, com uma cabeça gigantesca e uma mordida de um prognatismo tão exagerado que os caninos inferiores ficam à mostra.
Esse estereótipo está tão arraigado no imaginário popular que fica difícil explicar que “bulldog” (em inglês, bull = touro, dog = cão) significa um cão de touros. Ou seja, um cão de trabalho para ser usado no gado.
Nos séculos XV e XVI na Europa, os mercadores de gado e açougueiros usavam cães que eram capazes de proteger e conduzir o rebanho, e eventualmente, segurar um touro pelo focinho e levá-lo ao chão, imobilizando-o. Uma tarefa que sem dúvida nenhuma, não é para qualquer cão. Para executar tamanha proeza, eram usados animais de extrema agilidade, força física, resistência à dor, capacidade cardiorrespiratória fenomenal e uma coragem sem limites diante de um adversário muito superior em tamanho e peso.
Será que alguém acredita que algum desses “bulldogs” modernos seja ele qual for, já que muitos são os candidatos a serem os “verdadeiros representantes” dos valorosos cães da antiguidade, seja capaz de agarrar um touro pelo focinho, levá-lo ao chão e imobilizá-lo? Se sim, acho que essa pessoa nunca viu um touro de perto!
Imagine que os criadores desses bulldogs modernos, veterinários, e revistas especializadas, recomendam que o feliz proprietário de um desses cães evite fazer exercícios com o seu pet em dias quentes.
Sim, porque é isso que eles são, apenas “pets”!
Esses bulldogs modernos estão morrendo de insuficiência respiratória só por darem uma corridinha no parque ou no pátio de casa, e não estou me referindo somente ao inglês. E querem chamar esses animais sem focinho de bulldog. Isso me deixa louco!
Na minha opinião, os únicos cães que ainda são capazes de lidar com um touro são o pitbull, dogo argentino, alano espanhol, o bulldog americano linhagem scott e talvez algum bullterrier de trabalho.
Existem grupos de pessoas dedicadas a resgatar o bullterrier e trazê-lo de volta à posição de onde nunca devia ter saído:
Abaixo estão algumas gravuras que mostram os verdadeiros bulldogs trabalhando. Notem os focinhos compridos, patas longas, e corpo esguio e atlético. Isso foi antes das aberrações começarem a aparecer.
Já ouvi criadores de bulldogs dizerem que “para ser um bulldog tem que parecer bulldog”. Entende-se com isso atarracado, cabeção, dentes à mostra etc. Não, não é verdade. Para ser um bulldog tem que trabalhar como um bulldog. Eu entendo a posição desses criadores pois seus cães já não são mais usados como cães de touro, então só sobrou a aparência de um suposto bulldog.
Quero deixar claro que não sou contra a mordida invertida, aliás, alguns criadores de pitbull da história, preferiam a mordida invertida pois acreditavam ser ela mais forte. O problema é quando existe um espaço de vários centímetros entre a parte interior dos incisivos inferiores e a parte exterior dos incisivos superiores (prognatismo).
Quanto maior o espaço, mais fraca a pegada. E o pior, é que o focinho vai ficando cada vez mais curto, dificultando a capacidade respiratória do animal. O mito de que um focinho recuado facilita a respiração do cão na hora da pegada não tem fundamento, basta se observar com cuidado para ver que existem aberturas nas laterais das narinas que sobem pelos lados. Elas existem justamente para que o cão continue respirando sem dificuldade enquanto agarra. Sei que muitas pessoas acham que hoje em dia não há necessidade de um verdadeiro bulldog de trabalho.
Eu, discordo. Acho que um cão de touros ainda pode ser muito útil em uma fazenda de gado, assim como um border collie o é em uma fazenda de ovelhas.
Mas, de qualquer forma, mesmo que hoje em dia não houvesse mais lugar para esse magnífico animal, não justifica ficarem promovendo uma caricatura, um impostor, ao invés de honrar a memória dos verdadeiros bulldogs, esses fantásticos animais de trabalho que deram suas vidas a serviço dos humanos.
Não sei se é possível calcular a importância econômica e social desses cães na pecuária bovina européia dos séculos XV e XVI e posteriormente na colonização das américas.
Uma coisa eu sei, é que para os admiradores de cães de trabalho, o termo “bulldog” está associado à valentia, valor, bravura, e usá-lo para descrever esses animais patéticos, é mais do que mau gosto, é um insulto.