A biomecânica do trabalho de proteção
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Cão de Guarda

A biomecânica do trabalho de proteção

Jairo Teixeira
escrito por
Jairo Teixeira

Quase todos os predadores quadrúpedes tem certas características biomecânicas que a seleção natural consistentemente favorece em detrimento de outras. Isso se dá porque aquelas formas funcionam melhor que outras.

Já a seleção artificial não se limita em qual forma funciona melhor; nós podemos criar qualquer pobre mutante distorcido que quisermos e transformar isso numa raça.

Esse texto foi traduzido para o português e publicado aqui com a permissão de David Ishee do Midgard Kennels.

(Este texto não necessariamente representa a nossa opinião na sua totalidade)

Bandog Brasil agradece!

É por essa razão que eu estou seguindo os exemplos da natureza quando tomo decisões sobre desenhos e formas que seleciono no meu programa de criação.

O primeiro exemplo é o prognatismo. Muitas pessoas dizem que ele ajuda o cão a respirar melhor enquanto agarra.

Isso é fácil de refutar pois é exatamente por isso que os cães tem aberturas que sobem pelas laterais das narinas – eles respiram pela frente e pelos lados.

Se essa característica fosse necessária então todo lobo correria o risco de morrer sufocado antes de cada refeição.

Cães de proteção teriam que, volta e meia, soltar a pegada para respirar, mas não é o que ocorre.

Se essa fosse uma característica vantajosa para um cão de presa, então algum predador natural teria essa adaptação para ajudá-lo na caça, porém todo predador mamífero, quadrúpede selvagem tem a mordida em “tesoura”.

O que prejudica a respiração de um cão é ter um focinho estilo Pug – e isso independente de estar mordendo ou não.

Esse é um Bulldog inglês com o focinho muito curto. Você pode ver como todas estruturas internas do sinus e cavidade nasal estão apertadas em um pequeno espaço, e as aberturas laterais das narinas estão bloqueadas pela pele do focinho.

 

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Essa é a foto do cranio de um Bulldog comparado ao cranio de um lobo. Você pode ver que os dentes caninos superiores e inferiores do lobo se cruzam e formam uma forte mordida em “tesoura”. Os dentes superiores e inferiores do Bulldog estão completamente desalinhados formando uma mordida prognata inútil.

 

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Essa é a razão porque nada na natureza é construído dessa forma e as companhias aéreas não aceitam transportar cães com focinho estilo Pug acima de certas temperaturas.

 

O próximo ponto é o “stop”. O “stop” nos cães é onde o focinho e a testa se encontram, entre os olhos. Algumas raças como o Corso, o Boxer e a maioria das raças com focinho estilo Bulldog possuem um “stop” pronunciado que formam ângulos agudos.

 

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Ter essa “dobra” no maxilar superior é uma fraqueza. Pense como um alicate e outras estruturas feitas para transmitir força são formatadas. As formas retas ou curvadas para fora tem mais massa no ponto que exerce maior pressão o que as torna fortes. No caso do cranio o “stop” compreende uma área com falta de osso para transmitir da melhor forma a força dos músculos maxilares que se encontram na parte posterior do cranio para a parte frontal do maxilar. Os lobos quase não tem “stop” e tem um incrível poder nos maxilares. Os grandes felinos superam radicalmente os lobos em poder de mordida e não tem “stop” e em alguns casos o reverso, com massa óssea onde ficaria o “stop”. Leões e grandes tigres tem o maior poder de mordida entre os felinos – o que não é de se surpreender já que são os maiores. Porém, as hienas podem morder mais forte do que um leão, que é bem maior, devido a forma de seu cranio que permite exercer maior pressão sem o risco de quebrar o maxilar superior. Então, mais uma vez, existe uma razão para na natureza não existir o “stop”. Alguns ursos parecem ter “stop” mas na verdade são só tecidos moles e não osso. Se você observar o cranio dos ursos vai descobrir que são muito similares ao dos grandes felinos.

 

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Cranio de Coiote

 

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Cranio de Dingo

 

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Cranio de Puma

 

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Cranio de guepardo

 

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Cranio de Urso Polar

 

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Cranio de Tigre

 

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Cranio de Leão:

 

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Cranio de Hiena:

 

O arco convexo no maxilar superior, dá ao crânio massa óssea suficiente para suportar a pressão da mordida. O stop se resume em uma perda óssea no maxilar superior, numa linha que vai dos músculos do maxilar na cabeça até a parte frontal do focinho. Isso limita a quantidade de força que um cão pode exercer na mordida sem que corra o risco de quebrar o maxilar. O crânio do Bull Terrier Inglês original seria o ideal, porém atualmente o Bull Terrier tem um focinho curvado para baixo ao invés de um leve stop.

 

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Crânio do topo 1931  |  Crânio do meio: 1950  |  Crânio de baixo: 1976

 

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É fácil perceber porque um focinho curvado para baixo é inútil no trabalho de proteção pois o cão tem que olhar para cima enquanto morde e não na direção da mordida.

 

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Bull Terrier de 1915

 

O próximo ponto se refere aos cães que são largos demais em relação a sua altura. Nenhum predador na natureza tem essa forma. Todos os predadores quadrúpedes selvagens tem uma boa proporção entre largura e altura. Eu não tenho nenhum problema com um cão largo desde que essa largura seja derivada de uma musculatura sobre um esqueleto proporcional, e não uma carcaça de hipopótamo sem musculatura. Ter uma estrutura balanceada permite a um animal quadrúpede uma boa movimentação , manobras rápidas, com passadas fáceis.

Compare esses cães…

 

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Com esses predadores naturais…

 

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Puzzle-clementoni-lion-running         Male Lion running 872 Copyright Marin van Lokven

 

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Ainda que esses animais sejam de espécies diferentes e de várias partes do mundo, todos eles dependem de sua habilidade de caça para a sobrevivência. Como resultado eles são capacitados com uma boa movimentação como qualquer cão de proteção deveria ser.

O argumento óbvio é : e os ursos? Só que os ursos não são tão largos como aparentam pois grande parte são músculos, pelos e gordura.

Eles também tem uma caixa torácica grande o suficiente para comportar o sistema digestivo de um onívoro. Por ser onívoro, ele não depende tanto da habilidade de capturar presas. E embora sejam corredores velozes, eles não se comparam aos grandes felinos e lobos na caçada.

 

Alaska. Brown Bear (Ursus arctos).

 

A large adult grizzly bear faces the camera (Photo by Joel Sartore/National Geographic/Getty Images)

 

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Como você pode ver os ursos não tem o tórax tão largo e as costas curtas como pode parecer, ainda que tenham uma estrutura maior do que a maioria dos carnívoros caninos e felinos. Esse ponto me leva aos cães que possuem as costas curtas.

Mais uma vez, todos os predadores naturais tem uma altura e comprimento proporcionais.

Esse é um ponto crítico e o principal fator determinante em quão fácil e natural vai ser o galope rotativo de dupla suspensão para um cão.

Esse galope é o deslocamento mais rápido de um cão e o mesmo que um guepardo usa para alcançar sua velocidade máxima.

Se um cão tem as costas muito curtas ou a garupa muito baixa ele tende a “quicar” por não ter as dinâmicas naturais do corpo que tornam o galope rotativo fácil e eficiente.

Esse desenho produz um cão mais lento, menos manobrável, com menor fôlego.

Você pode ver que o guepardo tem as costas longas com a garupa alta e musculosa. Quando comparado com cães de corrida rápidos e eficientes pode-se notar que eles têm estruturas corporais similares.

 

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Meu cão mais rápido é Kronos, ele galopa a 56 quilômetros e atinge um máximo de 64 quilômetros por hora, não é de surpreender que ele tenha a estrutura de um grande corredor.

 

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Muitas pessoas argumentam que um cão de proteção pessoal não precisa ter velocidade pois não vai ser usado para perseguir pessoas em fuga. Mas eles precisam velocidade para cobrir a distância entre eles e um agressor do momento em que são visualizados até a mordida.

Quanto mais tempo levar esse momento, maior a chance do cão ser alvejado.

É por esse motivo que também prefiro cães de pelagem escura, tigrados, tigrados reversos, azuis tigrados reversos, e merle azuis são difíceis de serem vistos no escuro.

E também o motivo de eu não gostar de cães com agressividade para com outros cães é que se pode usar um par de cães rápidos, praticamente invisíveis no escuro, que são difíceis de serem alvejados antes de fazerem a pegada.

A próxima questão é sobre qual o tamanho necessário de um cão de proteção.

Muitos acreditam que um cão de proteção não deveria pesar acima de 45 quilos com o argumento de que cães grandes são lentos, tem menor resistência, e menor mobilidade. Isso tende a ser verdade por causa do terrível estado das raças do grupo Mastiff, mas não é uma verdade absoluta.

Considere a velocidade, mobilidade e resistência de um Pug de 7 quilos e compare com um Greyhound de 32 quilos. Ainda que o Greyhound possa pesar 4 vezes mais, sua biomecânica superior o permite sobrepujar facilmente o Pug em todos os quesitos de atleticismo.

Os lobos e especialmente os grandes felinos pesam bem mais do que 45 quilos e ainda assim conseguem perseguir, capturar e matar presas maiores e mais rápidas do que qualquer homem.

 

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Então, não é muito imaginar que um Mastiff atlético, bem selecionado, pesando 67- 77 quilos possa derrubar qualquer homem. O perigo de um homem sobrepujar um cão não está na sua velocidade ou resistência, mas na sua capacidade de escalar e usar armas. Então, um bom cão de proteção tem que ser capaz de saltar, algo que um cão alto consegue fazer com facilidade, bem como suportar uma quantidade massiva de dano físico antes de morrer. Algo que um bom Mastiff consegue muito bem.

Também é importante frisar as diferenças entre um cão de proteção pessoal e um cão de polícia.

Um cão de polícia precisa pesar menos de 45 quilos pois precisa ser transportado facilmente e ser capaz de capturar um homem rapidamente sem matá-lo. Eles não precisam ser “super-durões” pois sempre tem um policial armado por perto para dar apoio. Seu trabalho é  localizar alguém em fuga e capturá-lo.

Já um cão de proteção pessoal pode ser a única linha de defesa à disposição. Um Malinois de 27-30 quilos pode ser um grande cão de polícia porém não teria muita chance contra um homem de 90 quilos, drogado e armado com uma faca. Um cão de 68-70 quilos, com uma estrutura correta, uma massa de ossos e músculos, seria uma escolha mais inteligente para alguém que procura um cão para proteger sua família na sua ausência.

Um cão de proteção pessoal pode ser acionado para matar alguém que é uma ameaça a sua família, e por causa de drogas não se pode contar com o medo do agressor ou sua sensibilidade a dor.

Nesse caso o cão terá que superar o agressor e sobreviver para realizar seu trabalho.

No que se refere a proteção pessoal, familiar e patrimonial, tamanho, dureza e potência são tão importantes quanto velocidade, resistência e mobilidade. Especialmente quando enfrentando múltiplos agressores. O cão precisa ser um atleta fisicamente balanceado para alcançar todo seu potencial como um cão de proteção.

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