O “artista marcial” canino
O “artista marcial” canino
O “artista marcial” canino
Cão de Guarda

O “artista marcial” canino

Jairo Teixeira
escrito por
Jairo Teixeira

Existe uma crença popular bastante difundida de que não se deve adestrar para guarda determinadas raças caninas por elas já serem naturalmente agressivas, e isso poderia ser até perigoso, vindo a transformar tal cão em um animal violento e fora de controle.

Esse mito mostra a falta de conhecimento e informação das pessoas no tocante ao adestramento de cães de guarda.

Em primeiro lugar é preciso entender que quando se adquire um bom exemplar do grupo de guarda, um Rottweiler por exemplo, nós estamos adquirindo um potencial de agressividade, correto? Isso é um fato!

A pergunta que tem que ser feita é:

Eu tenho controle sobre este potencial de agressividade?

 

É aí que entra o adestramento de cães de guarda!

Quando feito de maneira correta, o trabalho de guarda começa já na infância do cão, através de jogos que incentivam o instinto de caça, onde o cãozinho persegue e abocanha um pedaço de trapo, uma meia velha, uma corda macia, e é incentivado a “brincar” de cabo de guerra.

puppie

Isso é extremamente prazeroso para o animalzinho.

Assim que ele entende o jogo, nós já inserimos o comando “deixa”, “solta”, “larga”, etc (o comando deve ser um, e o mesmo sempre), assoprando de leve o nariz do filhote, fazendo-o largar a “caça”.

Logo a coisa toma forma e ele aprende o comando “pega” e o comando “deixa”.

É desta forma que, desde cedo, adquirimos o controle da boca do nosso cão.

E ao comando “deixa” ele larga qualquer coisa que tenha na boca, seja o trapo, uma bolinha, um osso, e no futuro, o braço do figurante (cobaia).

Nessa primeira fase só se está trabalhando o instinto de caça, ou seja, não há o elemento ameaça que despertaria o instinto de defesa.

O cãozinho nessa idade não tem estrutura física e mental para suportar tal stress.

Tudo é um grande jogo divertido, com algumas regras.

Mais tarde, por volta de um ano de idade nós vamos apresentar ao cão uma situação onde ele se sinta ameaçado. É aí que entra o profissional, o “cobaia”, ou figurante, como é conhecido.

Esta pessoa tem que saber exatamente o que fazer pois vai depender dele o sucesso ou fracasso do trabalho.

Só alguém com muita experiência sabe quanta pressão colocar no cão. O objetivo é que o animal seja ameaçado o suficiente para reagir mas não pode ser feito recuar de forma alguma.

Um bom figurante consegue extrair o melhor que há num cão.

O proprietário nessa hora tem um papel fundamental, encorajando verbalmente e de forma efusiva qualquer latido, rosnado ou atitude agressiva por parte do cão.

A coisa funciona mais ou menos assim…

 

O proprietário tem o cão junto de si, numa guia curta, esticada, onde o cão se sente conectado com o corpo do dono.

Nesta hora ele deve estar usando uma coleira ou peiteira confortável.

O dono usa o comando escolhido tipo: “cuida” e o cobaia longe começa a ameaçar com atitudes suspeitas, por detrás de uma árvore, um muro, um carro, tentando conseguir a atenção do animal.

Pode vir a usar gritos, empunhar varas, chicotes, fazendo um verdadeiro teatro, sempre ao longe no início.

À primeira demonstração de agressividade, o cobaia foge, “apavorado” e o dono elogia o cão, como se ele tivesse feito a melhor coisa do mundo.

Depois disso, o ciclo se repete por mais 3 ou 4 vezes e é o suficiente.

Este processo, repetido em várias sessões de 10-15 minutos no máximo, segue numa crescente, até o momento onde o cão faz contato físico, e chega ao ponto de agarrar com a boca cheia o braço ou a perna do figurante, só largando quando o dono dá o comando “larga” ou “solta”, que o cão já aprendeu lá atrás, nos primeiros meses de vida.

Basicamente é isso, estou tentando resumir a ópera é claro, mas dá para se ter uma ideia.

O produto final é um cão seguro de si que sabe suportar o stress de um confronto que ele julga ser verdadeiro, aprende a separar uma ameaça real de uma fantasia e confia no dono para as decisões de quando atacar e o mais importante, quando não atacar.

Além disso, um cão que passa por essa escola de “artes marciais caninas”, se torna um perito no combate corpo a corpo com um ser humano. Um animal que antes morderia de forma instintiva e desordenada, agora o faz de forma técnica e de maneira apropriada.

categoria_cao_de_proteca

O treinamento pode chegar a tal grau de sofisticação onde o cão aprende a atacar o braço que tem uma arma, faca, bastão, etc, aprendendo a usar o corpo para derrubar o seu adversário.

O limite é a criatividade do dono e do adestrador.

Já treinei cães para pularem a janela do carro, para irem em socorro do dono. Tudo em uma fração de segundos, é lindo de se ver!

O cão se torna muito mais seguro e capaz.

Como professor de jiu jitsu e defesa pessoal que sou, faço a comparação com um ser humano que aprende técnicas de luta e se torna física e psicologicamente apto para trabalhar na área de segurança de pessoas (guarda-costas).

Então, ao contrário da crendice popular, o adestramento de cães de guarda é de suma importância para se obter o total controle do potencial agressivo dos cães e aumentar as chances deles levarem a melhor em um confronto real com agressores.

Um cão treinado dessa forma é mais seguro que uma arma, pois esta, uma vez disparada, não se pode chamar a bala de volta.

rottweiler-dog-new-angry

Deixe seu comentário

compra verificada