Alguém já chegou em casa e encontrou os vasos de plantas quebrados, e a terra espalhada? As sandálias havaianas novinhas com as tiras destruídas? Ou o travesseiro de penas espalhado pela sala?
Bom, esse tipo de destruição é mais comum do que se imagina e é algo que pode custar muito trabalho e dinheiro.
Já vi situações graves onde os cães além de destruírem, engolem objetos, o que resulta muitas vezes em cirurgias sérias e/ou até na morte do animal.
Casos onde os cães morreram eletrocutados por roerem os fios do abajur, eu lembro de vários.
O episódio mais surpreendente que lembro foi uma boxer que engoliu o aparelho celular do dono.
Podem imaginar algo assim? O homem ligando do celular da mulher tentando localizar o seu e ouvi-lo tocando dentro do cachorro?
Parece piada mas não é, realmente aconteceu. Eu mesmo custei a acreditar.
Mas por que o cão faz isso? Estaria tentando o suicídio? Quer se vingar de mim, destruindo algo que me custou caro? Ou quer chamar a minha atenção?
Posso garantir que um cão é incapaz de bolar um plano para chamar a atenção de alguém. Porém, ele aprende muito rapidamente que pode conseguir atenção destruindo algo.
As pessoas fazem exatamente o que não deveriam fazer:
Xingam o cão, gritam, dizem não, mostram o objeto destruído e dão um sermão.
Bom, se ele estava querendo atenção, acaba de ganhar um montão dela, correto?
Um cão viciado em atenção prefere ser xingado do que ser ignorado.
Não, não estou sugerindo que se deixe o animal destruir a casa. Estou propondo uma abordagem mais inteligente.
Qual a origem desse comportamento indesejável?
Precisamos achar a fonte, a raiz do problema.
Claro que tal situação já demonstra uma terrível falta de liderança por parte do dono, algo que pode e deve ser corrigido através de práticas tipo:
- Alimentar o animal com hora marcada, forçando-o a esperar a sua permissão para comer
- Conduzi-lo na guia sem que ele puxe
- Jamais dar atenção enquanto ele pula em mim, mas somente quando ele está com as quatro patas no chão, entre outras…
Mas existe um gatilho que dispara a destruição de objetos, e este é a:
“Ansiedade por separação”
Algo que ocorre quando uma barreira física é colocada entre um cão “emocionalmente dependente” e seu dono.
Quando o dono sai de casa e uma porta se fecha, por exemplo. Um dos recursos que um cão tem para lidar com tal ansiedade é usar a boca para mastigar, roer algo que de preferência tenha o cheiro, o gosto, e/ou seja simbólico do dono.
Algum objeto para o qual o dono dirige sua atenção.
Se, ao chegar em casa, o dono encontra um objeto que foi roído pelo cão e transforma isso em um evento, o ciclo se fecha e amanhã o animal vai repetir aquele comportamento pelo qual foi “premiado”.
Assim, é muito importante ignorarmos a destruição feita pelo cão.
Eu sugiro que enquanto o problema não for solucionado, o dono retire do alcance do animal o máximo possível de objetos que possam ser destruídos, minimizando o dano.
Ao mesmo tempo colocando “iscas” tipo um sapato velho que você já não usa mais, uma carteira velha, algo que se ele destruir, não vai fazer diferença e que não ofereça perigo ao animal. Ou, melhor ainda, um osso bovino atraente que ele possa roer e canalizar sua frustração.
Mas como solucionar o problema?
Para solucionar o problema, a primeira medida é parar com as saídas e chegadas “emocionais”, ou seja, não se despedir do cão ao sair e principalmente não interagir com ele na chegada.
Obviamente, um animal ansioso,vai estar agitado, latindo, pulando, uns até urinando quando o dono chega.
Ele precisa ser completamente ignorado (não falar, não tocar, não fazer contato visual) até que ele se acalme totalmente, algo que pode demorar até 1 hora ou mais.
Somente após ele desistir de pedir atenção é que o dono deve interagir com o animal, de uma maneira calma, e de preferência, desviando a atenção de sua pessoa para uma bolinha, cabo de guerra, passeio a pé, de bicicleta, etc.
Qualquer atividade que os dois possam fazer juntos sem que o dono seja o foco principal.
Outra medida é ensinar ao cão um comando limitador. Uma variante do comando “fica”, por exemplo, mandá-lo para o canil, quarto, pátio, etc, e ele permanecer lá, solto, até ser chamado, no início, com a porta aberta.
Um cão destrutivo, ansioso, é um cão que está viciado na atenção do dono.
É como uma sombra que o segue pela casa toda. Muitas vezes ganhando colo, sentando sobre os pés do dono, ou encostado nas suas pernas.
Um animal que, quando o dono está em casa fica o tempo todo pedindo e, o pior, ganhando atenção.
Ensiná-lo a ficar em outro ambiente com a porta aberta, demonstra que ele não é o centro das atenções e que não estou disponível 100% do tempo.
E agora, a barreira física, a porta, que era o objeto da sua frustração, pois o impedia de ter acesso ao dono, já não existe mais.
Nesse momento, quando percebemos que o cão está relaxado e aceitou o fato de que não vai receber atenção, mesmo eu estando em casa, a porta pode ser fechada.
A consequência disso é que a ansiedade desaparece, e as manifestações da ansiedade, no caso, a destruição de objetos, já não ocorre mais.
Pode parecer simples mas funciona!
Um cão é regido por condicionamentos, padrões mentais, e o que estamos fazendo com essa prática é apenas mudando o seu padrão mental.
Num próximo post vou dar o passo a passo de como ensinar o comando limitador(cama, fora, canil, quarto, etc).
Abraços e até lá!