Uma questão de ética
Uma questão de ética

Não gosto de criar polêmicas, mas às vezes a hipocrisia se torna insuportável. Fui procurar uma veterinária para saber se ela fazia cirurgia de orelha (conchectomia/ototomia) em cães. Ela, com uma expressão de horror me disse que estava proibida.

Era quase como se eu tivesse cometido um sacrilégio por perguntar. Bom, eu sei que esta profissional está envolvida em campanhas de castração para cães de rua. Então, perguntei: sim, mas castração pode? – Ah, mas castração é para o bem dos animais, o corte de orelhas é puramente estético, foi a resposta.

Bom, em primeiro lugar o corte de orelhas e cauda não tem um motivo unicamente estético. Historicamente essa prática tem sido usada em cães de caça e combate pois em um confronto com um lobo, urso, ou javali, os cães com orelhas e caudas naturais sofriam mutilações, ficando mais vulneráveis aos ataques dos adversários.

Os cães de guerra e guarda também. Um cão de guarda com orelhas e rabo compridos oferece ao adversário humano uma melhor “pegada”, dessa forma facilitando sua imobilização.

Mas, independente disso, o que me incomoda é o fato de as mesmas pessoas que acreditam que a castração é um bem para uma cadela de rua, acham que o corte de orelhas e cauda em um cão são maus tratos. Ora bolas, por favor…

Todas são intervenções cirúrgicas, todas envolvem mutilação, todas envolvem anestésico, sutura e pós operatório. E o argumento de que se está fazendo o bem com a castração, é uma questão de ponto de vista e alvo de discussão.

Sim, eu pessoalmente concordo e creio que ao se castrar um cão de rua se impede a multiplicação descontrolada de cães abandonados e o consequente sofrimento destes animais. Mas isso é uma opinião humana, baseada na ética humana.

Eu, como comportamentalista e estudante ávido da etologia canina me pergunto: e se o cão pudesse opinar?

Será que ele concordaria com a própria castração? Ou será que ele diria: “Não, a razão da minha existência é a perpetuação da espécie”.

Num esforço de provar suas “boas intenções”, o humano rebateria: “Mas estamos pensando no futuro e bem estar dos seus filhotes”. A resposta fria, dura, mas verdadeira encerraria qualquer argumentação: “Que o mais apto deles sobreviva”.

Engana-se quem acha que eu estou apenas romantizando aqui. Creio de todo meu coração nesses princípios, os quais aprendi com os cães.

Ou seja, o ponto que quero firmar é que não há diferença entre uma intervenção cirúrgica e a outra, ambas são arbitrárias.

O pobre argumento de se estar fazendo um bem, é baseado unicamente na opinião de pessoas, e partindo de um ponto de vista antropocêntrico. Particularmente, acho equivocada tal proibição por parte das instituições que controlam a prática da medicina veterinária, pois as pessoas continuam cortando caudas e orelhas de forma “artesanal”, sem o devido acompanhamento de um médico veterinário.

Mas, o que mais me doeu no episódio, foi o fato dessa mesma profissional estar me argumentando sobre os maus tratos, quando ao mesmo tempo, se encontrava a seus pés um exemplar de Bulldog inglês (cheio de problemas de pele, como de praxe), um animal que na verdade é uma deformação.

Não entendo como as pessoas que dizem proteger os animais podem comprar um exemplar desta raça, dando dinheiro a criadores sem escrúpulos, que criam monstros que não conseguem nem reproduzir sozinhos, mas precisam de inseminação artificial e parto cesariana.

Isso sim é absurdo e maus tratos.

Onde estão as pessoas que protegem os animais nessa hora? Ou a prática da inseminação artificial e o parto cesariana são lucrativos demais para serem combatidos?

As entidades cinófilas e os veterinários deveriam se pronunciar contra a criação dessas deformidades, cheios de problemas de pele, respiratórios, reumatismos, problemas de coluna que causam pressão na medula e levam à imobilização dos posteriores e até à incontinência, vítimas da ignorância e vaidade humanas, submetidos à tortura por toda sua existência.

Isso é a mais pura hipocrisia! Mostra a ignorância das pessoas que se escondem atrás do “politicamente correto” mas não tem noção do que está acontecendo ao seu redor.
Mas falando de absurdo, isso me lembra de um “protetor de animais” que defendia a ideia de se construir, na África, uma cerca para separar os leões, leopardos, guepardos etc,dos gnus, zebras, búfalos, gazelas, etc.

Isso para proteger os “pobres” herbívoros, dos seus “assassinos” carnívoros.
Em breve ambos, presas e predadores, estariam mortos. Predadores por não terem carne para comer, e herbívoros por superpopulação, doenças, e falta de pastagem. Quanta ignorância. Parece piada mas é verdade, uma pessoa sugeriu isso.
Isso mostra o perigo dos ignorantes “bem intencionados”.

“A autoestrada para o inferno está pavimentada de boas intenções”.

Algumas fotos só para ilustrar o que estou afirmando. Querem falar de maus tratos??

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