Cão de proteção ou fera indomável?
Cão de proteção ou fera indomável?

Quem conhece meu trabalho nas redes sociais, sabe que sou um admirador do cão de função, em especial do cão de proteção.

Acredito que cada vez mais, um cão de proteção pessoal e familiar tem o seu lugar garantido na nossa sociedade moderna.

Porém, uma pergunta precisa ser feita e respondida: qual o perfil deste animal?

Recentemente, um aluno veio me indagar acerca da minha opinião sobre o comando “DEIXA”, “SOLTA” ou equivalente, um comando que possa interromper imediatamente uma agressão justificada.

Eu tenho as minhas raízes no adestramento de cães. Foi a idéia de ter um animal de proteção completamente controlado que me despertou o interesse pelos cães.

Portanto, para mim, é inconcebível que um cão de proteção, com o potencial para ferir seriamente e até matar um ser humano, não responda imediatamente uma ordem para cessar toda e qualquer agressão.

Eu sei que existem pessoas que discordam e afirmam que um cão que foi ensinado a largar, a interromper uma agressão sob comando, não vai atacar de forma decidida, arrojada, por antecipar o comando que vai obrigá-lo a interromper a ação.

Bom, o que posso dizer a respeito, é que a minha experiência treinando cães para pessoas e famílias não confirma isso.

Um animal que não possa ser controlado ao ponto de interromper uma agressão sob comando, se torna uma verdadeira ameaça e, no mínimo, tem a sua utilidade reduzida consideravelmente.

Eu propus ao aluno que me questionava, analisar com calma a seguinte situação. Aproveitei o fato dele ser proprietário de um poderoso exemplar de Dogo Argentino, para sugerir dois cenários imaginários:

Primeiro cenário

No primeiro, eu estou viajando com o meu Dogo, e paro num local isolado para abastecer meu veículo e usar o sanitário.

Quando estou me dirigindo ao banheiro, surge repentinamente um agressor tentando arrancar à força minha mochila com os meus pertences.

Imediatamente chamo meu cão, que, saltando pela janela do carro vem em meu socorro, fazendo exatamente aquilo que aprendeu no treinamento.

Joga o agressor no chão com o impacto do seu corpo e firma sua potente mordida no bíceps do sujeito.

O indivíduo grita em desespero, pedindo ajuda e implorando para que eu retire o animal.

Enquanto me preparo para ARRANCAR meu cão do braço do homem rendido (lembrando que esse cão NÃO foi ensinado a largar sob comando) surgem dois outros agressores, um com um taco de baseball, me forçando a fugir e buscar ajuda, deixando meu cão para trás.

Um par de horas depois, volto ao local com a polícia e encontro meu precioso animal morto a pauladas e meu carro desaparecido.

Segundo cenário

No segundo cenário imaginário, eu paro no mesmo local e a cena se repete.

Surge o primeiro agressor, eu chamo o meu cão treinado que responde prontamente, o agressor é derrubado, imobilizado e posto fora de combate em questão de alguns segundos.

Quando percebo a aproximação dos outros dois indivíduos, grito para o meu cão: “DEIXA”, e ele responde prontamente, fazendo exatamente aquilo que aprendeu no treinamento.

Saio correndo em direção ao meu carro, entro no veículo acompanhado do meu animal e arranco em velocidade, deixando a cena, ambos a salvo e em segurança.

Conclusão

Essa duas situações hipotéticas, demonstram claramente que um cão que sabe agredir sob comando, porém não é treinado para interromper a ação, é um animal de uso limitado, um cão de “um tiro só”.

O cão que responde o comando “DEIXA” ou similar, é um animal versátil, que pode ser redirecionado para um segundo ou terceiro alvo.

Além disso, é um animal mais seguro, pois podemos calcular o dano desejado, interrompendo a agressão logo que a ameaça deixe de existir.

Eu costumo dizer que o cão é mais seguro que uma arma, pois eu não consigo chamar o projétil de volta.

Um cão de segurança pessoal e familiar não pode ser uma fera sem controle, que uma vez acionada não pode ser impedida a não ser por força física. Isso limita grandemente o perfil da pessoa que pode ter um cão de proteção.

Uma mulher, um jovem ou um idoso, jamais poderiam ter um cão desse perfil “FERA INDOMÁVEL”.

Se a “dona Maria”, tiver força o suficiente, para arrancar o seu Dogo Argentino do braço de um agressor, eu duvido muito que ela realmente precise de um cão de proteção.

Acredito que com um ou dois tapas ela põe o meliante a correr.

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